A imuno-histoquímica (IHQ) é um exame avançado em patologia veterinária cada vez mais necessário no dia a dia da prática diagnóstica, visto que tem aplicação prática ao influenciar na conduta terapêutica empregada no paciente, bem como determinar prognóstico ou predizer o comportamento de uma determinada neoplasia.
Vamos abordar aqui as principais indicações e algumas limitações relacionadas à metodologia. É importante ressaltar que a imuno-histoquímica, de forma geral, não faz a distinção entre processos reativos inflamatórios e neoplásicos, visto que não há proteína específica para isso. Portanto, se houver dúvida quanto ao diagnóstico inicial, solicite revisão de caso. A única exceção para isso é através da diferenciação de enteropatias inflamatórias crônicas e linfomas intestinais de baixo grau em felinos, pois a imuno-histoquímica aumenta a capacidade do patologista de identificar o epiteliotropismo, característico de linfócitos T em linfomas de baixo grau nos tecidos emblocados em parafina. É importante, todavia, que na diferenciação dessas duas condições se siga o algoritmo de diagnóstico estabelecido na literatura, segundo o qual a realização da IHQ é recomendada apenas para casos suspeitos de linfoma ou em casos de enterites irresponsivas ao tratamento clínico.
Quanto às indicações da técnica de imuno-histoquímica, ela se aplica principalmente à caracterização neoplásica. Em casos de neoplasias morfologicamente indiferenciadas, ou seja, que o patologista não consegue definir a origem do tumor pelos aspectos microscópicos, são empregados anticorpos específicos para detectar proteínas expressas por determinadas neoplasias. Por exemplo, melanomas orais em cães podem ser amelanóticos, ou seja, as células passam a não conter mais melanina intracitoplasmática. Nesses casos, é usualmente indicada a realização de imuno-histoquímica, visto que neoplasias de morfologia similar, como o fibrossarcoma oral, têm comportamento distinto, sendo uma de comportamento altamente metastático e a outra de comportamento infiltrativo local, com a marcação de melan-A, S100 e/ou SOX10 sendo confirmatória de melanoma.
A imuno-histoquímica pode também ser utilizada para fins prognósticos, como para mastocitomas e linfomas. No primeiro, a expressão de c-Kit pode ocorrer de forma membranar, pontilhada perinuclear ou citoplasmática (padrões KIT I, II e III, respectivamente), sendo as duas últimas relacionadas a pior prognóstico, menor sobrevida e maior risco de recidiva. Já no segundo, a imunofenotipagem realizada através da imuno-histoquímica permite determinar se a neoplasia é de origem de linfócitos B ou T, com linfomas de imunofenótipo T em caninos tendo comportamento mais agressivo.
É fundamental compreendermos a essência da imuno-histoquímica. Essa metodologia utiliza anticorpos monoclonais ou policlonais para detectar antígenos, como proteínas tumorais ou agentes infecciosos específicos, por meio de uma série de reações em tecidos processados histologicamente. Esses materiais são fixados em formol a 10% e incluídos em parafina no laboratório de patologia veterinária. Assim, sempre que fragmentos lesionais forem enviados em formol para diagnóstico histopatológico a um laboratório, este manterá o material incluído em parafina por um período determinado (geralmente cinco anos). Esse material poderá ser utilizado posteriormente para fins diagnósticos ou prognósticos em exames imuno-histoquímicos. E lembre-se disso: o arquivamento do material incluído em parafina é de responsabilidade do laboratório, porém a qualquer momento o tutor e/ou o veterinário requisitante têm o direito de retirar esse material para fins de revisão ou realização de exames complementares, como a imuno-histoquímica, em estabelecimento de sua preferência.
Ainda assim, é importante que o veterinário clínico e o oncologista saibam que, como qualquer exame complexo, a IHQ também traz consigo custos elevados, sejam eles relacionados à técnica em si ou à avaliação por um patologista qualificado. Uma das razões para isso é o emprego de anticorpos específicos, que são geralmente produzidos em camundongos em laboratórios estrangeiros, ou seja, são materiais importados com custo variável conforme a cotação do dólar. Além disso, também são utilizadas diversas outras substâncias químicas para realização da recuperação antigênica e revelação da reação antígeno-anticorpo, bem como a mão de obra empregada é altamente qualificada para executar a técnica e avaliar microscopicamente o resultado.
Dr. MSc. Matheus Viezzer BianchiPatologista VeterinárioCPV – Laboratório de Patologia Veterinária
Especialista em Patologia Veterinária –
Associação Brasileira de Patologia
Veterinária (ABPV) • CRMV/RS 19347
(54) 9 9923.0650
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