CARDIOLOGIA | Tiago Zim
E aí, doutor, meu gato pode ter problema cardíaco?
Com a presença cada vez maior da espécie felina nos lares brasileiros, os tutores estão mais preocupados em se informar dos problemas-alvo dos gatos. Na cardiologia veterinária, não diferente dos demais sistemas, os felinos têm suas peculiaridades únicas.
Diferente dos cães, os gatos possuem alterações mais comuns acometendo o miocárdio, que chamamos de cardiomiopatias (CM). Elas causam o enfraquecimento estrutural e funcional do músculo cardíaco, ocasionando geralmente a cardiomegalia, cuja evolução cursa com a insuficiência cardíaca congestiva, além de poder acarretar arritmias, interferindo diretamente no débito cardíaco (volume de sangue bombeado pelo coração).
Conforme o grau e o tipo de acometimento no músculo, os sinais clínicos tendem a variar. No início do quadro, os pacientes tendem a ficar assintomáticos. Em gatos, essa falta de sinais tende a perdurar por um bom tempo, podendo ter como único achado a alteração nos sons cardíacos, com um sopro ou um abafamento, por exemplo, ou uma alteração no ritmo cardíaco. No entanto, essa cardiopatia tende a evoluir, por isso a importância de levar o paciente para o veterinário, para que a ausculta seja feita, essa alteração seja percebida, e o paciente seja encaminhado ao cardiologista para investigar o achado.
Com a evolução do quadro, o paciente pode apresentar: taquipneia (aumento da frequência respiratória), dispneia (dificuldade respiratória – tende a respirar com a boca aberta, principalmente nos casos em que há edema pulmonar e/ou efusão pleural), anorexia (falta de apetite), paralisia dos membros posteriores de forma aguda (causada por tromboembolismo), temperatura baixa, entre outros sinais. Ressalta-se que tosse em felinos, diferente da que ocorre em cães, raramente tem relação com cardiopatias, estando relacionada geralmente a problemas do trato respiratório.
As cardiomiopatias podem ser primárias, como: cardiomiopatia hipertrófica (CMH), cardiomiopatia dilatada (CMD), cardiomiopatia restritiva (CMR), cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito (CMAVD) e cardiomiopatia não classificada (CMNC); ou secundárias: hipertrofia do ventrículo esquerdo causada pelo hipertireoidismo ou hipertensão arterial sistêmica; CMD proveniente da deficiência de taurina, de miocardite difusa ou de taquicardia persistente; doença miocárdica relacionada ao alto débito cardíaco por anemia ou tireotoxicose (alteração sistêmica causada por excesso de hormônios da tireoide de forma crônica); cardiomiopatia infiltrativa por neoplasia (como o linfoma) ou miocardites. Infarto do miocárdio pode ocorrer, mas geralmente é raro.
O diagnóstico dessas alterações é feito primariamente pelo ecocardiograma, exame não invasivo, que auxilia bastante na tomada de decisão.
Dentre essas alterações, vamos relatar as CM mais comuns:
Cardiomiopatia hipertrófica:
principal doença na espécie, acometendo cerca de 58% a 68% dos felinos, aparecendo principalmente nas raças Maine Coon, Ragdoll e American Shorthair, cuja afecção tem herança autossômica dominante, por isso a prevalência alta nessas raças. Sua característica principal é o aumento da massa ventricular esquerda, que pode acarretar obstrução da aorta, ocasionando num segundo momento dilatação atrial esquerda, e gerando um impacto importante no quadro, inclusive com a formação de trombo, por redução da velocidade do fluxo sanguíneo dentro dessa câmara. Como auxílio diagnóstico dessa enfermidade, além do ecocardiograma, podem ser feitos testes genéticos, principalmente nos gatis, para que os gatos acometidos sejam retirados dos programas de reprodução, a fim de barrar a perpetuação da CMH.
Cardiomiopatia infiltrativa por neoplasia: causada principalmente por linfoma, também é uma afecção que vemos na rotina, devendo ser associada à parte sistêmica. Geralmente tem relação com o vírus de leucemia felina (FELV).Cardiomiopatia restritiva:
segunda forma mais comum das CM felinas, acometendo cerca de 20% dos gatos, é caracterizada por dilatação atrial, por processo obstrutivo ou por fibrose miocárdica importante, sem a hipertrofia concêntrica ventricular marcante. As manifestações clínicas podem ser parecidas com as observadas na CMH.
#DICA DO CARDIO O diagnóstico diferencial das CM ocorre através dos exames complementares, principalmente através do ecocardiograma, que ajuda a definir o grau de repercussão da doença, auxiliando na conduta correta frente ao quadro, além de ajudar a definir o prognóstico do paciente.
Por isso, a importância de levar o seu bichano para o cardiologista veterinário, que irá avaliar dentro de critérios a possibilidade de uma cardiopatia estar presente, mesmo que de forma assintomática. Quanto antes se diagnosticar e iniciar o tratamento, melhores serão os resultados.
Tiago Zim
Médico Veterinário pós-graduado em Cardiologia Veterinária, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia Veterinária e da Diretoria Regional do RS da SBCV, coordenador da pós-graduação do curso de Cardiologia Veterinária do IBM Vet.
WhatsApp: (54) 99121.4442
Email: cardiomedvet@gmail.com
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