As cardiopatias em cães, ou seja, as doenças que afetam o coração, são mais comuns do que pensamos em nossos companheiros do dia a dia. Ver um canino tossindo, tendo fraqueza, desmaio ou alteração respiratória pode ter relação direta com essas afecções.
Mas quais as cardiopatias mais comuns em cães? De maneira simples, as cardiopatias podem ser divididas em doenças congênitas (pacientes nascem com elas) e doenças adquiridas (desenvolvem ao longo da vida). Dessas, o que mais vemos comumente são as adquiridas, que envolvem as doenças valvares, a cardiomiopatia dilatada, as neoplasias cardíacas e as doenças infecciosas.
Vamos relatar brevemente as mais comuns:
Endocardiose ou doença mixomatosa valvar crônica (nomenclatura atual) Doença degenerativa progressiva da valva (conjunto de válvulas), cuja estrutura torna-se espessada e irregular, devido ao acúmulo de mucopolissacarídeos, acarretando fibrose, que ocasionará a falta de fechamento das válvulas, levando à insuficiência ou regurgitação valvar. Essa alteração é a responsável por cerca de 75% das cardiopatias em cães, sendo mais frequente em cães idosos, de raças pequenas, ocorrendo também 1,5x mais frequentemente nos machos do que nas fêmeas. Em cerca de 60% dos casos, apenas a valva mitral é afetada, em 30% dos casos a mitral e a tricúspide são acometidas, e em 10% dos casos apenas a tricúspide. Valva aórtica e pulmonar geralmente tem outras causas de alteração associadas. A insuficiência valvar promove o remodelamento cardíaco e a alteração na matriz intercelular, prejudicando a função cardíaca, cuja tendência é a de evoluir para a insuficiência cardíaca congestiva, que se não diagnosticada e tratada de forma correta, poderá acarretar o óbito do paciente. Cardiomiopatia dilatada Segunda cardiopatia mais prevalente em cães (cerca de 10% das cardiopatias em cães), acomete principalmente cães de porte gigante e grande (Terra Nova, São Bernardo, Dobermann, Dogue Alemão, Pastor Alemão, Golden Retriever, Labrador, Boxer, Fila Brasileiro, Dálmata) e de porte médio (como o Cocker Spaniel). Raramente é encontrada em cães de porte pequeno (como pode ocorrer no West White Highland Terrier). Sua causa pode ser primária (relacionada à genética) ou secundária (deficiência nutricional, falta de aminoácidos taurina e carnitina), inflamação crônica (dano oxidativo), infecção viral ou parasitásia, ou aos efeitos colaterais de alguns quimioterápicos, como a doxorrubicina. Em sua fisiopatologia (como ocorre a doença), há a perda da função miocárdica, levando a um coração dilatado e flácido, promovendo diminuição da contratilidade e consequentemente da ejeção sanguínea pelo órgão. Pela distensão e fibrose cardíaca, em fase mais avançada dessa doença, podem ocorrer arritmias, contribuindo para a piora da função cardíaca.
Neoplasias cardíacas Podem ocorrer de forma primária ou secundária (metástase), sendo a primeira forma mais comum em cães. Acometem mais cães de porte grande, de meia-idade e sem predisposição sexual. Ocorrem principalmente em cães Sem Raça Definida (prevalência de 23%), Boxers (15%), Pastor Alemão (13%), Labrador (5%), Buldogue (5%), além do Yorkshire (5%). Os tumores mais comumente encontrados em cães são o hemangiossarcoma e o quimiodectoma. Em gatos, o tumor mais comum é o linfoma. Essas neoplasias podem ocorrer dentro da cavidade cardíaca, intramural (dentro do miocárdio) ou intrapericárdica (dentro do pericárdio, que é a membrana que recobre o coração). Pela condição inflamatória e compressiva dessas massas, podem ocorrer obstruções do fluxo sanguíneo, além do acúmulo de líquido no interior do saco pericárdico, levando a uma condição chamada tamponamento cardíaco, que é a compressão cardíaca causada pelo líquido acumulado dentro do saco pericárdico, que se não tratado e/ou drenado, pode levar o paciente a uma condição de emergência.
Doenças infecciosas cardíacas
Podem ocorrer em qualquer estrutura cardíaca, mas geralmente tendem a acometer mais o endocárdio (tecido mais interno do coração), acometendo principalmente as valvas, o que chamamos de endocardite. É considerada pouco frequente em cães e rara em gatos. Entretanto, é muito provável que sua prevalência seja muito maior do que se diagnostica, já que os sinais clínicos são inespecíficos (de uma infecção sistêmica em curso). A bacteremia (presença de bactérias na corrente sanguínea) é a condição obrigatória para o desenvolvimento da endocardite. As bactérias mais encontradas são: Sthaphylococcus spp., Streptococcus spp., Escherichia coli e diversas espécies da Bartonella. Infecções fúngicas podem ocorrer também, mas são extremamente raras. Importante ressaltar que, para que ocorra a endocardite, geralmente há a necessidade de lesão endotelial valvar (endocardite), já que para o agente aderir a estrutura, com a presença de irregularidades na valva, fica mais fácil a sua instalação e colonização. Além das endocardites, podem ocorrer miocardites infecciosas (mais relacionadas a causas virais), e as infecções parasitárias, como a dirofilariose (verme do coração), causada pela Dirofilaria immitis, que na nossa região da Serra Gaúcha, felizmente, não é tão comumente encontrada, já que é uma zoonose (doença transmitida de animais para seres humanos) emergente no Brasil.
Após um breve resumo das afecções cardíacas mais comuns em cães, salienta-se que para o correto diagnóstico dessas alterações, indica-se a avaliação cardíaca com um especialista em cardiologia veterinária. Mais importante do que levar seu pet para uma avaliação em que a doença já está instalada (com sinais clínicos), indica-se a avaliação preventiva, já que quanto antes soubermos o que está acontecendo no coração do paciente, melhores as chances de estabilizarmos as cardiopatias.
De maneira preventiva, na dúvida, leve o seu pet para um check-up cardíaco. Lembre-se: O cuidado preventivo de hoje pode acarretar no melhor resultado de um tratamento amanhã.
Tiago Zim
Médico Veterinário pós-graduado em Cardiologia Veterinária, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia Veterinária e da Diretoria Regional do RS da SBCV, professor convidado no curso de Cardiologia Veterinária do IBM Vet. (54) 99121.4442
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